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IA em tudo e em todo o lado ao mesmo tempo

A esmagadora maioria das empresas incorpora a tecnologia nos produtos e serviços de forma meramente superficial, sem um propósito claro, com o objetivo de surfar a onda do momento.
IA em tudo e em todo o lado ao mesmo tempo

Artigo publicado no DIGITAL INSIDE
Por FERNANDO AMARAL, CHAIRMAN do SENDYS GROUP

Ouvia, há vários anos, numa conferência, um conceituado especialista, de cujo nome não me recordo, que, a determinado momento, dizia: “blockchain é como o sexo na adolescência. Todos falam, mas poucos sabem realmente o que é!”. Agora que captei a sua atenção, vamos lá! E que tal trocar blockchain por inteligência artificial? Pois é…

Estamos a viver a era a que chamo “IA em tudo e em todo o lado ao mesmo tempo”. Na esmagadora maioria dos casos, a utilidade é quase tão ficcional, quanto o filme que invoco. Atualmente, não é muito mais do que apenas uma perceção distorcida que nos chega pelos media e pela comunicação de empresas que apenas pretendem, na espuma dos dias, capitalizar o hype existente à volta da IA.

Confundem-se tecnologias e conceitos que, embora colaborantes, possuem características e objetivos distintos, como é o caso de machine learning, deep learning, big data, robótica e automação, internet das coisas ou blockchain. Como se recordarão, algumas delas, já foram também buzzwords do momento, como acontece agora com a IA.

Esta confusão acontece, em minha opinião, por um conjunto de fatores, como o facto de os media e do marketing exagerarem nas capacidades da IA, de haver muitas interseções entre estas tecnologias, que podem ser usadas em conjunto, ou a falta de conhecimento técnico aprofundado que permita a sua destrinça.

Contudo, é um facto que a inteligência artificial generativa chegou em força e inundou as nossas vidas pessoais e profissionais com uma infinidade de ferramentas e aplicações. Dos chatbots, aos geradores de conteúdo, a IA é omnipresente e, depressa, passa de hype a overdose.

Apesar dos avanços significativos, a esmagadora maioria das empresas incorpora a tecnologia nos produtos e serviços de forma meramente superficial, sem um propósito claro, com o objetivo de surfar a onda do momento. Isso leva a uma proliferação de ferramentas e aplicações que têm um valor real para os utilizadores. De que serve o caricato de poder fazer uma fatura por comando de voz, se a “utilidade” se fina aí e continua um recurso alocado? De que serve ter um chatbot, se apenas dá informações básicas ou realiza tarefas simples, gerando ineficiências e frustração, levando os utilizadores a abandoná-lo rapidamente?

Não ignorando as implicações ambientais significativas, e apesar dos desafios e críticas, o potencial da IA para transformar a sociedade é inegável. Para que a IA se afirme como uma tecnologia transformadora, é essencial que as empresas se concentrem em desenvolver aplicações que agreguem valor para todos os intervenientes.

Não sou um velho do restelo e, a tal “IA em tudo e em todo o lado ao mesmo tempo” está em pleno andamento, mas é fundamental avaliar criticamente as aplicações dessa tecnologia, evitando a saturação do mercado com soluções superficiais e ineficientes. Priorizar a criação de ferramentas integradas que resolvem problemas objetivos e oferecem valor aos utilizadores, sejam empresariais ou domésticos, é o caminho para se poder garantir um futuro positivo para a IA.

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